MUDAR esta pouca vergonha

Para MUDAR é necessário ouvir. Para MUDAR é também necessário que Lisboa não seja conhecida apenas como a capital do país que toda a gente fala como aquele que poderá entrar em crise após a Grécia.

Para conseguir matar dois coelhos de uma cajadada, aconselho todos a ouvirem e a divulgar o novo album dos “The Walkmen” que tem o título de “Lisbon”. Desta forma ouvimos boa música e o nome de Lisboa aparece associado a algo positivo.

Desta forma é possível MUDAR.
Lisbon

No dia de hoje o spread da dívida portuguesa voltou a bater um novo recorde. Isto significa que Portugal passa a ter de pagar mais juros e aumenta a pressão especulativa.

Antes de ir ao ponto fulcral deste post deixem-me apenas divagar um pouco sobre as consequências destes eventos. O aumento dos juros implica um aumento da despesa. Logo, numa altura em que tanto se fala de reduzir a dívida e o defice, este aumento do spread só por si não cria, pelo menos no curto-prazo, uma crise, contudo complica os planos do governo e obriga a ter de ir buscar dinheiro a algum lado (mais impostos ou menos despesas) para atingir o objectivo que se comprometeu. Além disso, o aumento do spread do Estado, implica também o aumento do spread das empresas, o que implica que a vida das empresas também se complica.

O grande problema está sim na possivel falta de credibilidade do Estado português para honrar as suas dívidas e na especulação que está novamente a cair sobre Portugal. Estes dois factores podem levar que Portugal não consiga vender as obrigações que pretende, o que implicaria que o Estado ficaria sem dinheiro (pois nesse momento para ter dinheiro temos de pedir emprestado), logo salários de funcionário públicos deixariam de ser pagas, obras públicas parariam e tudo o resto do país também pararia. No entanto, este sinal catastrofista dificilmente aconteceria, pois a UE e o FMI emprestariam dinheiro a Portugal, mas impondo as suas condições.

Na minha sábia opinião, neste momento a credibilidade do pais ainda não se encontra perdida, pelo que se espera que o Estado consiga vender as obrigações que pretende. Apesar de ainda não estar perdida a credibilidade, tanto a oposição (em especial o PSD) como alguns “iluminados” do país tudo têm feito nos últimos dias para tal acontecer (isto não deve contudo ausentar o governo de erros cometidos e que contribuiram para a situação actual). Esses senhores têm clamado pela intervenção do FMI, ao mesmo tempo que o FMI vem dizer que, apesar dos problemas, Portugal se encontra no bom caminho. Estes senhores sem saberem o orçamento já por várias vezes vieram insinuar que este deve ser chumbado. Isto tem de MUDAR, caso contrário podemos ter mesmo graves problemas (se levarmos em conta que os actuais já são bem graves, então está tudo explicado).

Passos Coelho entrou com o pé direito na liderança do PSD, tomando num curto espaço de tempo várias medidas acertadas, entre elas o apoio ás medidas de austeridade que o país precisava. Tanto ele como o país perceberam nessa altura que se nada de estranho acontecesse ele chegaria a primeiro-ministro de Portugal. No entanto, o facto do poder estar tão perto levou a que os seus coloboradores achassem que ele devia encurtar o caminho e chegar lá mais rápido. Isto não seria um mal que vinha ao mundo (e até podia ser algo bastante positivo) em qualquer outra altura. No entanto, no momento actual Portugal precisa de tudo, menos instabilidade política, pois só aumentaria a instabilidade. Logo, Passos Coelho deve voltar a sua postura inicial, pensando mais nos interesses de Portugal do que nos seus interesses.

Por último alguns conselhos também ao governo. Para evitar colocar a oposição entre a espada e a parede, o governo tem de ser humilde e saber dialogar com a oposição. Só trabalhando em conjunto se chegará a algum lado.

Pelo titulo do artigo alguns podem pensar que vou falar de Alberto João Jardim e das suas visitas as tasquinhas do Chão de Lagoa. No entanto, para não induzir ninguém em erro, esclareço já que esse não é o assunto (talvez noutra altura).

O motivo deste artigo é a proposta do governo á Casa do Douro para que entregue os seus vinhos ao Estado para pagar as suas dívidas. Perante esta proposta, a questão que se coloca é: Para que é que o Estado quer o vinho?

Será para vender? Nesse caso, não seria melhor ser a Casa do Douro a vender e depois entregar o dinheiro ao Estado? Na minha humilde opinião a Casa do Douro terá mais experiência que o Estado a vender vinho.

Será para consumo próprio? Será que os ministros e respectivos secretários de Estado pretendem começar o dia com sopas de cavalo cansado para aumentar a productividade (como já dizia o famoso Toy)?  Será que os conselhos de ministro vão começar a ser um festim com vinho do Douro? Tenho as minhas dúvidas que o ficar borracho melhore a performance dos ministros. De facto, até pode ser que esse seja o seu estado natural, o que explica algumas das suas medidas e declarações.

Será que o governo pretende dar o vinho aos portugueses? Será que Sócrates pretende acabar desta forma com a contestação ao governo? Como já dizia Salazar o vinho alimenta o país e dá alegria (e numa altura em que nem o Benfica nem a selecção dão alegria, bem que precisamos de um motivo de alegria).

Qualquer que seja a resposta às minhas perguntas, penso que não é assim que o país vai MUDAR. O governo deve tentar recuperar as dívidas da Casa do Douro mas de forma sensata.

O jornal Público noticiou ontem que um homem que tinha fugido há 14 anos da prisão de Paços de Ferreira foi preso depois de ter participado no programa “Você na TV”. Esta noticia só mostra como Portugal precisa de MUDAR.

Para demonstrar o meu ponto, reparem no seguinte.
Primeiro, Portugal é um país que deixa alguém fugir da prisão e andar em liberdade durante 14 anos.
Segundo, Portugal é um país em que alguém foge da prisão para depois ir dar entrevistas no “Você na TV”.
Terceiro, Portugal é um país onde existe um programa chamado “Você na TV” e que é apresentado pelo Manuel Luis Goucha.
Quarto, Portugal é um país onde alguém só é apanhado depois de dar entrevistas na TV.

E depois não digam que não é preciso MUDAR.

Para os que quiserem ler a noticia com mais cuidado, o link  é o seguinte
artigo online do publico

O nome do novo submarino português deve ser rapidamente mudado, pois “Tridente” não é certamente o nome mais apropriado. Dado o que ele vai fazer as contas públicas portuguesas, os nomes mais apropriados são “Titanic”, “Bloco de Cimento” ou “Peso Morto”.

Se a marinha fizer muita intenção de manter o nome “Tridente”, então pelo menos arranje um patrocínio da marca Tridente (o mesmo devia ser feito para o navio-escola Sagres).

Para MUDAR é preciso ler, por isso decidi fazer duas recomendações de leitura: o conto de Dostoievski “O Crocodilo” e o livro de Miguel Torga “Contos da Montanha”.

O conto “O Crocodilo” foi publicado recentemente com outros dois contos russos na colecção Biblioteca de Babel e apesar de retratar a Rússia do século XIX, aplica-se perfeitamente ao Portugal dos nossos dias. Este conto, não é o típico Dostoievski, encontrando-se cheio de ironia para retratar a necessidade de imitar o que se faz no estrangeiro, sem no entanto se saber o que se faz no estrangeiro. Esta história pareceu-me bastante actual no recente caso da venda da Vivo e uso da Golden Share pelo Governo. Durante este periodo, varios “entendidos” alegavam o que se fazia no estrangeiro para exprimirem a sua opinião. No entanto, tenho as minha dúvidas que eles soubessem o que se faz no estrangeiro.

O livro de Miguel Torga apesar de falar de um Portugal de há mais de 50 anos, continua a ser um bom manual para conhecer o interior do nosso país. Além disso, trata-se de um livro maravilhosamente escrito.

E lendo é possível MUDAR.