MUDAR esta pouca vergonha

"O Senhor das Moscas" ("Lord of the Flies") é um livro de William Golding, publicado pela primeira vez em 1954. O livro conta a história de um grupo de crianças que se vê isolado numa ilha e afastado da civilização depois do avião em que seguiam se ter despenhado. Apesar de ser um livro com crianças, não é um livro para crianças, pois o livro revela como o ser humano pode ser destructivo e perverso. Não sei porquê mas a actual crise da UE faz-me lembrar deste livro, pelo que o recomendo como leitura de Verão a todos, mas em especial aos líderes da UE.

Um recente estudo feito por dois investigadores da universidade suíça de St. Gallen revela que as agências de notação financeira procederem a avaliações de "rating" mais severas desde que a crise da dívida soberana começou a revelar-se em 2009, contribuindo assim para essa crise. No caso especifico de Portugal os investigadores concluem que baseado nos fundamentais o corte de rating deveria ter sido inferior a um nivel. Dado que Portugal foi cortado em 8 niveis, isto significa que o rating de Portugal sofreu corte sete vezes superior ao que era justificável.

Este estudo revela o que eu disse várias vezes no passado, Portugal e os seus políticos cometeram muitos erros nos últimos anos, essencialmente em termos de endividamento público e privado para suportar despesas e alguns investimentos que não eram necessários. No entanto, a imagem que quiseram fazer passar de Portugal nos últimos anos não era verdadeira, pois os fundamentais não se alteraram significativamente, apenas se alteraram as capacidades de financiamento. Infelizmente, quando a crise começou havia interesses politicos que impediam que isso fosse discutido de forma transparente e clara, o que muito prejudicou Portugal. Neste momento, já não há nada a fazer a esse respeito, a não ser aprender com os erros do passado. Agora é levantar a cabeça, fazer alguns sacrificios e esforços para tentar sair desta crise melhor do que entramos, pois ela pode ser a oportunidade de fazer algumas reforma estruturais que tanto precisamos. No entanto, convêm nunca esquecer aqueles que mais podem sofrer com os sacrificios e esforços pedidos, de forma a garantir que o que lhes está a ser pedido não é além das suas possibilidades. Portugal nunca pode deixar de garantir que todos os seus habitantes têm pelo menos um nível decente de qualidade de vida.

Os Jogos Olímpicos começam hoje (embora umas equipas de futebol tenham andado a jogar dizendo que estão nos Olímpicos), pelo que é aquela altura de 4 em 4 anos que nos lembramos que há desportos para além do futebol. Apesar das expectativas não serem altas, há que apoiar os nossos atletas.

Nas últimas semanas parece que todos voltaram a estar concentrados na crise da dívida soberana dos paises do euro. Ora porque parece que a ajuda a Espanha terá de ser extendida à restante economia em vez de estar restrita aos bancos. Ora porque alguém se lembra de dizer que a Grécia poderá sair do euro ou reestruturar novamente a sua dívida.

Enquanto isso outras coisas vão acontecendo, mas ninguém liga muito a isso. Na Siría a guerra civil intensifica-se e segundo parece as forças de Assad e os rebeldes mobilizam-se para "batalha decisiva" em Alepo. Num plano completamente diferente mas também preocupante, a Nasa revelou que a superfície da camada de gelo e neve que cobre a Gronelândia sofreu este mês derretimentos numa área particularmente grande da ilha, naquele que é um fenómeno já considerado pelos cientistas como “extraordinário”. A área onde se registaram derretimentos superficiais generalizados saltou de 40% para 97% em apenas quatro dias.

Outro facto que parece também passar despercido é o avolumar das cidades dos EUA que estão a pedir bancarrota. Se calhar se fosse na UE isso não passava tão despercebido.

Rui Costa, ciclista português a participar no Tour de França teve hoje uma afirmação que devia dar que pensar a muitos desportistas portugueses, principalmente aos nossos futebolistas. Depois de terminar a penúltima etapa do Tour, onde garantiu o 18 lugar na classificação final, Rui Costa disse: "Peço desculpa aos portugueses por não conseguir dar-lhes uma vitória neste Tour, mas não foi por falta de tentativas ou de luta. Obrigado pelas imensas mensagens de carinho que me têm enviado".
É importante lembrar que Rui Costa se tornou há cerca de um mês no primeiro ciclista português a ganhar uma prova do ProTour por etapas e que nesta volta a França termina num muito honroso 18 lugar, tendo estado sempre junto dos primeiros, com excepção de um dia mau e de um dia em que teve de trabalhar para a vitória de etapa do seu colega de equipa Alejandro Valverde. Penso que sem esses 2 dias, ele estaria entre os 10 primeiros. Logo, Rui Costa não precisava de pedir desculpa, embora o sentimento que expressa seja importante e leva-me a perguntar porque é que nós não apoiamos mais estes atletas.

Infelizmente os últimos dias não têm sido pródigos em boas notícias, antes pelo contrário. De seguida deixo 3 exemplos disso, que dada a sua relevância me deixam preocupado:
(1) Na Madeira vários incêndios deflagraram nos últimos dias, deixando atrás de si um cenário de destruição com enormes prejuizos para a população e meio ambiente da ilha.
(2) Na Gronelândia uma ilha de gelo maior do que a cidade de Lisboa separou-se do glaciar Petermann. Mais um exemplo dos efeitos que acção humana causa no meio ambiente. Mais preocupante, o degelo desta ilha de gelo causará também importante alterações nos ecossistemas que a rodeiam.
(3) Na Síria os confrontos chegaram à capital Damasco e actualmente só faz sentido falar duma guerra civil, que já conta com várias mortes e feridos. Resta ter esperança que a guerra civil esteja a chegar ao seu fim, para evitar que o número de vitimas continue a aumentar.

Miguel Relvas não tem deixado a ribalta nos últimos tempos e a sua fama já chegou ao Tour de França. Na etapa desta quarta-feira havia um alegre senhor com uma criança às cavalitas que exibia um cartaz a dizer: "Vai estudar Relvas". Dado que Relvas tem a pasta do Desporto e disse recentemente que procurava o "conhecimento permanente", penso que a mensagem e o local onde foi exibida não podiam ser mais apropriados. De seguida deixo os videos que recordam para a posterioridade mais esse momento bonito da participação portuguesa no Tour (vamos ter esperança que nesta edição do Tour ainda possamos celebrar uma vitória do Rui Costa e/ou do Sérgio Paulinho)

Neste blog já critiquei várias vezes Alberto João Jardim. Apesar de não concordar com o tipo de politicas que ele adoptou para a Madeira (essencialmente baseadas em promover o crescimento através de obras públicas e de subsidios ao Turismo) e do seu antagonismo para com o "Continente", devo dizer que até tenho alguma simpatia para com o senhor. Além de considerar que é alguém honesto (o que não se pode dizer de todos os politicos), aprecio especialmente o seu sentido de humor e acutilância em alguns dos seus comentários. Exemplo disso, foi o recente comentário à licenciatura de Miguel Relvas. Alberto João Jardim afirmou que, utilizando o precedente do “caso Relvas” e a sua experiência, vai pedir equivalências para ficar com os cursos de “Veterinária, Biologia, Informática e Astronomia”. A  minha grande questão é quem são os animais que ele tem andado a tratar para ter equivalência ao curso de veterinária?

Nos últimos dias foram publicadas noticias dizendo que o ex-primeiro ministro italiano Sílvio Berlusconi revelou a pessoas próximas que será candidato às eleições gerais italianas marcadas para a primavera do próximo ano. Neste blog, nós já nos tinhamos despedido dele, mas parece que o senhor não nos quer abandonar. Infelizmente, penso que isto não são boas noticias para a Itália (e também para a UE), pois há o sério risco de Berlusconi voltar a ser primeiro ministro italiano, o que nos anteriores exemplos não foi muito positivo.

Desde 2008, o comum cidadão ficou a conhecer várias irregularidades cometidas pelos bancos e intermediários financeiros ao longo dos anos e apercebeu-se também da promiscuidade existente entre essas entidades e o poder politico. Nas últimas semanas ficou a conhecer-se mais um exemplo disso, com a divulgação do escândalo associado com a manipulação das taxas LIBOR. As taxas LIBOR são associadas a vários contratos financeiros (por exemplo, os contratos de empréstimos para compra de casa), pelo que as consequências dessa manipulação são enormes. Neste momento, ainda não é claro qual foi o papel do Banco de Inglaterra e do proprio governo inglês na manipulação dessas taxas, mas esse é um assunto que tem de ser investigado até às últimas consequências.
Este caso mostra que ainda há muito a fazer ao nível da regulação bancária. Mostra também que alguns dos instrumentos financeiros (como a LIBOR) normalmente utilizados são desajustados e estão desactualizados no tempo. Por último a revelação de mais este caso mostra que "THE TRUTH IS OUT THERE"

Em resposta à polémica criada por ter tirado a licenciatura em apenas um ano, Miguel Relvas disse esta quinta-feira nortear a sua vida “pela procura do conhecimento permanente” (devo dizer que a primeira vez que ouvi a frase tive um novo dejá vu, pois penso que Sócrates teve uma expressão muito semelhante numa entrevista onde tentava explicar a sua também polémica licenciatura). Eu penso que Miguel Relvas faz muito bem em nortear a sua vida “pela procura do conhecimento permanente”, mas o facto de só ter estado apenas um ano na universidade a tirar a licenciatura acaba por ser uma contradição com essa afirmação. Se pretende o "conhecimento permanente”, Miguel Relvas devia ter ficado os 5 anos que o curso exige e depois disso devia ter continuado a assistir a aulas que não frequentou. Ou será, que o ministro pensa que o "conhecimento permanente” se alcança em outros lugares?

Durante o debate do Estado da Nação, Passos Coelho tentou rejeitar a possibilidade de aumentos de impostos, afirmando mesmo que “Não estamos a pôr porcaria na ventoinha e assustar os portugueses". Vamos esperar para ver. (Já agora pedir ao PM para não pôr mesmo porcaria na ventoinha, pois depois dá muito trabalho a limpar)

As projeções para 2012-2013 anunciadas esta terça-feira pelo Banco de Portugal revelam duas boas notícias.
Primeiro, o Banco de Portugal estima que em 2012 haverá um saldo positivo na balança de bens e serviços e que em 2013 haverá mesmo um superavit das balanças corrente e de capital. Se tal ocorrer, será a primeira vez em décadas.
Segundo,o Banco de Portugalespera uma contracção do PIB de 3% este ano, um valor melhor que os -3,4% previstos no Boletim da Primavera divulgadas no final de Março. A melhoria deve-se ao bom comportamento das exportações. 

Depois de o Tribunal Constitucional ter decidido que os cortes no subsídio de férias e de Natal são inconstitucionais, tivemos nos últimos dias o Presidente da República a dizer que "não é fácil encontrar espaço" para pedir mais sacrifícios aos portugueses e o Primeiro-Ministro a afirmar que "a realidade" mostra que "os objectivos do país" estão "mais difíceis de alcançar mas a resposta "não é renegociar tudo", "deitar o jogo ao chão", "dizer que não somos capazes". Vamos esperar para ver as cenas dos próximos episódios.

A Direcção Geral de Energia e Geologia anunciou que sete empresas manifestaram interesse em apresentar hoje, quinta-feira, propostas para a prospecção e pesquisa de ouro em Jales/Gralheira, Vila Pouca de Aguiar. Acredito que as grandes descobertas de ouro que estão a ser feitas tornarão Portugal numa potência mundial. Para tal acontecer mais rapidamente, deixo o apelo feito em posts anteriores para que se inicie também a prospecção de petróleo no Beato.

Nos últimos anos Portugal e a maioria dos restantes países têm vivido essencialmente preocupados com os problemas financeiros, ignorando os outros problemas que vão acontecendo à sua volta. Este facto pode ser preocupante num momento em que podem estar a acontecer dois genocidios, na Siria e no Mali, que infelizmente podem fazer relembrar os acontecimentos ocorridos no Ruanda há 8 anos (lembrar que se estima que no Ruanda morreram cerca de 800000 pessoas, sendo que cerca de 500000 dessas mortes ocorreram no espaço de um ano).

Na Síria o conflicto está prestes a entrar no segundo ano, mas tem vindo a tornar-se cada vez mais sangrento. Neste momento, penso que é legitimo falar da existência duma guerra civil entre o actual poder (liderado por Al-Assad) e o Free Syrian Army. A brutalidade do governo de Al-Assad tem sido imensa e há muito que a comunidade internacional devia ter tomado medidas para pará-la. Na Síria existe um coglomerado de diferentes povos e o facto das minorias serem o suporte do actual governo é um factor de preocupação para o que se poderá passar a seguir (mais uma vez é importante relembrar o Ruanda). O facto de estar a adiar-se uma solução, só tende a tornar esta situação mais provável.

No Mali existe também uma guerra civil, que ameaça tornar este pais um não-Estado semelhante à Somália. Neste momento existem 3 principais grupos em conflitos: o Governo de transição do Mali, instalado após um golpe militar em Março, rebeldes tuaregues essencialmente vindos da Libia (onde eram aliados de Khadafi) que lutam pela independência do Norte do Mali e os fundamentalistas da Ansar Dine, a facção islamista que integra a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI), que pretende impor a Sharia no Mali. Todos os grupos têm cometido atrocidades à vida humana, e o número de mortes é já bastante elevado, embora não existam números oficiais. Nos últimos dias foi também revelado que os fundamentalistas da Ansar Dine estão a destruir os mausoléus, manuscritos e outro património edificado na cidade de Tombuctu, que integra a lista do Património Mundial da UNESCO.

Infelizmente, não posso resolver esses problemas à minha maneira para garantir que o respeito pela vida e dignidade humana, bem como pelo património da humanidade, eram sempre respeitados.

Embora o dado mais importante do Euro2012 é que Portugal neste momento tem o melhor treinador (José Mourinho), o melhor jogador (Cristiano Ronaldo) e o melhor árbitro (Pedro Proença) europeu.

O meu caro amigo JM pediu num recente post a minha opinião sobre o programa ObamaCare. Eu não sou um especialista na matéria, mas de qualquer maneira vou tentar explicar o que sei e dar a minha opinião.

Antes de mais é necessário perceber que nos EUA ao contrário de Portugal e da maioria dos paises europeus não existe um Serviço Nacional de Saúde, logo os cuidados de saúde tem de ser pagos pelas pessoas quando os utilizam. Uma grande parcela da população têm seguros de saúde (normalmente associados à entidade patronal) que cobrem grande parte das despesas de saúde (o restante é pago out-of-the-pocket). Um dos problemas dos seguros de saúde é que as seguradoras têm o direito de recusar as pessoas e/ou cobrar prémios de acordo com o risco, logo aqueles que tendem a precisar mais dos seguros de saúde ou não os conseguem ter ou tem de pagar prémios muito elevados. Antes do Obamacare existiam já 2 programas (Medicaid e Medicare) que procuravam garantir que as pessoas sem capacidades financeira ou em situação de maior fragilidade financeira tivessem acesso a cuidados de saúde. O Medicaid é financiado pelo governo federal e estatal e proporciona um seguro de saúde as a cidadãos dos EUA (reparem no que isso implica) com baixos rendimentos ou disabilidades. O Medicare proporciona um seguro de saúde a cidadãos dos EUA  com mais de 65 anos, jovens com disabilidades e pessoas com doenças renais. É importante perceber que apesar desses 2 programas existe uma grande parcela da população com baixos e médios rendimentos que não tem acesso a seguros de saúde, pelo que lhe é dificil ter acesso aos cuidades de saude nas principais instituições (existem instituições que prestam serviços gratuitamente ou a baixos preços a essas pessoas, mas como será de esperar a qualidade não é a melhor).

Este era o ponto de situação até ao ObamaCare. As principais medidas do ObamaCare são: expandir o Medicaid para pessoas com rendimentos até 133% da linha de pobreza, subsidiar seguros de saúde para pessoas com rendimentos até 400% da linha de pobreza, proibir recusa de realização de um seguro de saúde e/ou prestação de alguns serviços por parte das seguradoras/empregadores (esta medida está a ser fortemente atacada pela igreja católica e outras religiões, pois obriga que essas instituições proporcionem aos seus empregados seguros de saúde que subsidiem a compra de contraceptivos e/ou a realização de interrupções voluntárias de gravidez nos casos previstos na lei), proibir que os seguradores estabeleçam limites máximos aos montantes subsidiados e obrigar todos os cidadãos a ter um seguro de saúde. Esta última medida e o aumento das despesas necessárias para a expansão do Medicaid e subsidio dos seguros de saúde são 2 das medidas mais criticadas (juntamente com a já mencionada contestação da igreja católica e outras religiões a obrigatoriedade de subsidiar actos). A obrigatoriedade do seguro de saúde procura ser uma forma de redistribuir os rendimentos daqueles que não tinham seguros de saúde por não necessitarem para aqueles que não  os tinham por não terem dinheiro, contudo muitos dizem que a medida é  inconstitucional por obrigar as pessoas a comprarem algo que não querem.