MUDAR esta pouca vergonha

Krugman escreveu esta segunda-feira sobre o pesadelo que Portugal vive e que segundo ele é inaceitável. Segundo Krugman, o actual pesadelo deve-se não só aos erros do passados, mas também á actual politica monetaria e económica que vem sido seguida pelo BCE  e pela UE. A solução apontanda passa pela  "expansão mais forte na zona do euro como um todo” e “uma inflação mais elevada no núcleo europeu”. Mesmo não concordando com todos os pontos do texto, penso que o artigo de Krugman merece uma leitura atenta, pois coloca o dedo em várias feridas e oferece algumas medidas interessantes.

Esta segunda-feira o Presidente da República organizou o Conselho de Estado há muito anunciado pelo seu "novo porta-voz não-oficial". O Presidente da República decidiu discutir neste Conselho de Estado o "pós-Troika". Numa altura em que o país ainda tem de superar vários desafios para atingir as metas definidas pela Troika, este tema parece um dos "surrealismos" de alguns dos sketches dos Monty Phython ou dos Gato Fedorento. Dado que Cavaco anda a seguir esses exemplos, aqui fica uma sugestão.

George Orwell escreveu no seu ensaio "Politics and the English Language" que "political speech and writing are largely the defense of the indefensible". Algo em que os nossos politicos e jornalistas deviam meditar.

O cartoon do "The Economist" desta semana oferece um interessante retrato da actual situação da UE e particularmente de Portugal

O Estado Português voltou a colocar divida com maturidade a 10 anos, 3 dos 4 maiores bancos portugueses apresentam prejuízos elevados no primeiro trimestre, mas a notícia é que há dois touros à solta em Viana e "um deles marra".

Paulo Portas demonstrou hoje que é claramente o melhor lider politico actualmente em Portugal, a uma clara distância dos restantes (o que não obriga a que uma pessoa tenha de concordar com as suas ideias). Paulo Portas fez um dos melhores discursos políticos dos últimos tempos. A sua contextualização da actual situação foi excelente e na minha modesta opinião concordo plenamente com a estratégia que propôs para o relacionamento com a Troika (e que é completamente diferente da que tem sido seguida por Passos Coelho).  Ponto menos positivo, o de continuar a não me conseguir convencer em relação a algumas medidas, particularmente no que diz respeito ao aumento do horário de trabalho (ou é uma medida demagógica ou visa apenas dar mais incentivos para os funcionários públicos aceitarem rescinsões). No entanto, pelo menos salientou a necessidade de alterar algumas das medidas, principalmente substituindo-as por redução das despesas de funcionamento. Por último, era importante que Passos Coelho e Seguro aprendessem com Portas, e passassem a ser claros e objectivos nas suas propostas, nas coisas que concordam e nas que não concordam.

Passos Coelho afirmou este sábado que as várias medidas de austeridade anunciadas na sexta-feira decorrem do "talento" de Portas. Eu nem vou tentar comentar esta frase, pois o CDS vai falar este domingo e por isso prefiro esperar para ver. De qualquer forma é uma frase com bastante interpretações.

Quanto às medidas de austeridade propriamente ditas, dizer que não consigo perceber como alguém com "talento" pode ter estado envolvido na sua elaboração. Usando as palavras de Manuela Ferreira Leite "andamos a fazer sacrifícios em nome de nada", pois o documento apresentado  "foi um exercício feito de pernas-para-o-ar" feito de acordo “com os objectivos que a troika impôs” e, depois, “construíram-se os indicadores de forma a encaixar” naqueles objectivos. Entre medidas demagógicas (como o aumento das horas de trabalho para 40h) e inconclusivas (muitas das medidas parecem ser apenas intenções sem se saber qual será a sua implementação, particularmente no que diz respeito à redução dos funcionários públicos), pouco se aproveita. Concordo que é necessário cortar a despesa do Estado, mas penso que seria possivel apresentar um programa de corte de despesas muito melhor.

... E o Documento de Estratégia Orçamental 2013-2017 apresentado pelo governo esta segunda-feira revela, entre vários números preocupantes, que o desemprego será de 18,5% em 2014 e permanecerá nos 16.7% em 2017. Este não é um problema exclusivo de Portugal, mas isso não invalida que o Governo o deva encarar como uma das suas prioridades. Por isso, aproveito para recomendar aos nossos governantes a leitura de dois artigos do Economist ("Generation Jobless: Work and the young" e "Generation Jobless: Youth unemployment"). Apesar de não concordar com todas as medidas apresentadas, penso que estes artigos são um bom ponto de partida para uma discussão séria sobre o tema.